O último Livro que li

 O último Livro que li
Maria Susana Mexia, Professora de Filosofia e Antropologia Filosófica

«Suponhamos que não há Deus: nada é bom ou mau; é, simplesmente. Tu não és bom nem mau; és igual a uma pedra. Por sinal, as pedras são ateias; as plantas e os animais também são ateus, porque não perguntam nada. Mas tu pensas, sabes que tudo tem causas. Que outra causa que não seja a criação divina apresentas para o mundo, para a vida, para a distinção entre bem e mal? Tudo o que conheces é contingente: podia não existir, nem podia criar-se a si mesmo, Não quereis mesmo saber…»

Contradição? Paradoxo? Sigamos o raciocínio do autor:

«Estava eu tomando estes apontamentos para me dirigir aos ateus não praticantes, quando me chegou a notícia da publicação do diálogo filosófico de um matemático que nega a existência de Deus com Bento XVI. É discussão muito interessante, já muito antiga, especialmente cultivada em climas temperados.

Resumindo milénios: nos tempos mais remotos da Humanidade e nas comunidades mais isoladas doutras civilizações, quanto à religião, tudo se resolvia e baralhava com a imaginação. Inventavam-se deuses e histórias (nem sempre decentes) dos tais. Depois vieram as «sabedorias», quase todas muito valiosas, mas sem ordem nem terminologia coerente, e por fim a filosofia, que tinha sempre de partir de alguma certeza indiscutível, e seguir boa lógica.

Aristóteles foi nisso um mestre, com a sua «Metafisíca», séculos depois adotada pela chamada «Escolástica», e magistramente por S. Tomás de Aquino. Uma « Escolástica», porém, que tanto se complicou, que levou os filósofos a procurar a tal certeza básica em algo simples, imediato, evidente; pelo menos eles mesmos, a sua própria existência: Descartes. «Eu penso; logo, existo». Mas foi acusado de subjetivismo, pois cada um sabe de si, é certo, mas os outros é que não sabem dele. Até Kant «descobriu» o apoio firme da razão na «incerteza cientifíca»! o que se tornou paixão de inumeros intelectuais.

A certeza cientifíca! Cujo rigor, por sinal, depende justamente da perpétua dúvida sobre as suas tais «ceretezas», e na formulação de novas «ceretezas» a negar ou corrigir as anteriores! (…)

Desculpai fazer uma tal síntese do pensamento ocidental. Estou a escrever uma carta; não um ensaio. Só queria referir-me ao ambiente cultural em que vivemos, chamado «da morte de Deus», que melhor se diria «da fuga de deus».

Seguramente este pequenino livro ou carta como o autor ousa chamar-lhe, é uma pequena síntese magistralmente condensada, dum tema cuja dimensão ultrapassa e abrange o todo do Universo, do qual o Homem é, por excelência, o cerne da sua compreensão.

“Deus quer; o homem sonha; a obra nasce”, diz-nos Pessoa. E o nosso autor continua defendendo: « No entanto, a fé cristã, com o seu conhecimento profundo do homem, com os seus princípios morais e com as suas inúmeras iniciativas solidárias, tem sido o mais ativo e positivo fermento social de todos os tempos. De tal maneira que a própria linguagem politíca de hoje – igualdade, liberdade, solidariedade, dignidade, direitos humanos, corresponsabilidade social e internacional, etc. – à nossa fé se devem, nela radicam, e sem ela se esvaziam.»

Já vai longo o meu texto sobre esta Carta, resta-me acrescentar que vale a pena lê-la e reflecti-la.

O seu autor Hugo Azevedo, é Canonista, Doutor em Direito Canónico e Sacerdote, com numerosos ensaios já publicados.

A “CARTA AOS ATEUS NÃO PRATICANTES” tem a chancela da editora “encontro da escrita”.

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