O Ministério do Leitor

 O Ministério do Leitor

Há uns anos, conforme previsto para o início de Quaresma, a Zona Pastoral de Proença-a-Nova levou a efeito uma formação para os seus paroquianos sobre “O Ministério do Leitor “.

De facto, cerca de meia centena de leitores das sedes de paróquia e de cinco capelanias estiveram presentes no salão paroquial de Proença-a-Nova, incluindo adolescentes, jovens e adultos.

Relembremos o essencial dessa formação que continua válida e útil hoje para os nossos leitores da Palavra de Deus.

Introdução – O leitor e os Lecionários

Iniciada a sessão, começou-se por se referir que o “ministério do Leitor é também o ministério da Palavra, mas também da Comunhão entre Deus e os Homens, pois, o leitor é a voz de Deus que fala à assembleia, ao seu povo.”

Para esta sessão de formação, socorremo-nos principalmente do livro “O Ministério do Leitor” coordenado pelo Dr. Leão Cordeiro do Secretariado Nacional de Liturgia.

Até 1970, havia um único livro para a missa: o Missal Romano (em latim, com as orações, os cânticos, as leituras de que se servia o celebrante) mas, o Concílio Vaticano II veio pedir para que fosse restaurada “uma leitura mais abundante, variada e bem adaptada da Sagrada Escritura nas celebrações litúrgicas” (SC35).

Esses tesouros são toda a Palavra de Deus fixada nos livros sagrados.

Assim, a Igreja escolheu o essencial dos livros do Antigo e Novo Testamento, surgindo a restauração dos Lecionários antigos, o verdadeiro Livro das Leituras.

Nesta matéria, concluiu-se por mostrar e explicar a tipologia de Lecionários: Lecionário dominical e festivo com o ciclo de três anos (A, B e C), lecionário Ferial, Lecionário Santoral, etc.

Leituras e Leitores no Antigo Testamento

Num segundo momento da formação, foi abordado o tema: “Leituras e leitores no A. Testamento até Jesus”. 

Foi lembrado o texto do Êxodo 24,1-8, em que pela primeira vez o A.T. fala de uma leitura e de um Leitor, no relato da primeira aliança em que Moisés “escreveu todas as palavras no Livro. No dia seguinte, tomou o livro e leu-o na presença de todos.”

Pela primeira vez houve um livro, uma Leitura e um Leitor.

De seguida, foi lido o texto de Neemias 8,1-12, em que para além de uma leitura estamos na presença da narração de uma Liturgia da Palavra.

O leitor foi Esdras e este modelo de liturgia ali referido com a leitura da Lei foi usado nas sinagogas de Israel, onde Livro e Leitor se tornaram indispensáveis.

Quando Jesus iniciou a sua vida pública ainda se fazia assim (na sinagoga chegou a haver sete leituras e outros tantos leitores).

Finalmente, foi lido o texto de Lucas 4,16-21, em que Jesus lê Isaías.

A cena narrada por Lucas está em consonância com o relato de Neemias e Jesus torna-se o ícone vivo de todo o leitor cristão.

Nesta passagem, o mais importante de um ponto de vista ministerial é o Leitor que é Jesus.

De facto, n’Ele teve a origem do ministério do leitor cristão que teve um período longo e fecundo na Igreja, atingindo o seu período áureo no séc. VI.

Foi, entretanto, decaindo e as suas funções exercidas por outros ministros, situação que se prolongou dos anos 700 até ao séc. XX, com a sua restauração, em boa hora, pelo Concílio Vaticano II.

A preparação das leituras pelo Leitor

Num terceiro momento da formação, desenvolveu-se o tema: “A preparação técnica das leituras pelo Leitor”.

Na descoberta da riqueza do texto litúrgico pelo leitor, abordámos questões práticas como as palavras, a sua dicção e pronúncia, o seu significado; a frase e as suas partes constitutivas, com a descoberta do sentido nuclear, o uso das pausas breves e longas e dos pontos de apoio.

Quanto à preparação próxima das leituras, isso implica uma leitura prévia em casa pelo missal dos fiéis (dominical), lendo e relendo o texto, fazendo uma análise do mesmo, descobrindo a sua dimensão espiritual, recorrendo, se necessário, a dicionários de língua ou bíblicos, treinando em voz alta as palavras, as pausas, as palavras difíceis, diferenciando os géneros literários, assimilando um tom natural para a leitura (nem o neutro, monótono, nem o declamatório, demasiado teatral).

No espaço da celebração (igreja, capela, ar livre) ter em conta a acústica, a dimensão da assembleia, a amplificação sonora.

Terminou este ponto, referindo que o lugar da leitura é o ambão que deve ser um sinal, mantido e usado com toda a dignidade.

É dele que são lidas todas as leituras, porque são Palavra de Deus. Mas não deverão daí ser feitas as introduções às leituras, por serem simples palavras de homem” (OLM 33; EDREL 835).

Uma equipa de leitores deveria ser formada em comunidades mais numerosas, com rotatividade de leitores, dando oportunidade ao maior número possível de fiéis com capacidade para o fazer bem.

A leitura perante a assembleia

Como último ponto de formação, foi abordado o tema: “A Leitura perante a assembleia.”

Este serviço litúrgico é de grande importância, pois, graças ao serviço da leitura, a letra morta torna-se, para os crentes, em “Palavra de Deus”.

Simultaneamente, “o leitor há de acreditar que é o Espírito Santo que vai falar nas suas palavras e através delas penetrar na vida dos que as ouvem e transformar-lhes os corações.”

Para se preparar nesta fase para fazer a leitura, o leitor deverá agora preparar o Lecionário, tomar contacto com o texto e tipo de letra, buscar um lugar nem muito perto nem muito longe do ambão, “de preferência na extremidade de um dos bancos, junto da coxia central.”

Deverá saber o momento exato em que se deve levantar e o momento em que deve regressar.

Deverá conquistar a simpatia da assembleia através da sua postura, maneira natural e segura de se movimentar e de olhar assembleia.

Foram ainda abordados aspetos como a inclinação, a preparação do microfone, o olhar, a posição dos pés, das pernas, das mãos, da cabeça, da voz, o dominar da timidez, o evitar a tentação de ler a correr, comer as sílabas, não pronunciar de forma audível o final das palavras, o tom e o volume de voz, a velocidade da leitura, as pausas etc.

O leitor e a voz do Espírito Santo

A terminar, lembrou-se o texto já citado de Luc.4,16-20): “Um dia, na Sinagoga de Nazaré, alguém se levantou no meio da assembleia para fazer a leitura. Era Jesus.

Deram-lhe o livro do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim…” (cf. Lc 4,16-20).

Continuam a ser esses os gestos dos leitores de hoje: estar na assembleia, levantar-se, abrir o livro, fazer a leitura e sentar-se.

Não falta sequer o cumprimento da palavra de Isaías, pois “por detrás do leitor que proclama o texto (…) é o Espírito Santo que fala. Tal é o ministério e a grandeza do ministério litúrgico do leitor. 

*Diácono Daniel Catarino – 2024/01/21 (Domingo da Palavra de Deus)

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