Não temos ordem para apagar!

Aconselha a prudência a que não se fale de muito de incêndios enquanto não há a certeza de que até a mais recôndita brasa esteja apagada.
Até porque qualquer reacendimento, pode queimar o pensamento ainda turvo pelo fumo ou pelo sono em falta das noites mal dormidas.
Mas agora que Setembro chegou, e com ele as primeiras chuvas, talvez se possa finalmente falar dos sonhos quebrados e lagrimas choradas por quem não abandona as suas raízes mas que sistematicamente vê o seu esforço a ser queimado.
Nasci e fui criado numa região onde os incêndios foram sempre um fenómeno distante, e pela força de ser uma zona predominantemente agrícola, naturalmente circunscrito a pequenas áreas, sem grande prejuízo ambiental ou economicamente relevante.
A minha vinda para Proença a Nova, há 15 anos atrás, mudou essa linha do horizonte e trouxe-me para demasiado próximo de uma realidade que ciclicamente se repete com a rotação das estações do ano e deixa todos os Proencenses de coração aflito precisamente quando a maioria da população relaxa calmamente nas águas mornas do Atlântico.
“…não temos ordem para apagar” foi provavelmente a frase mais ouvida pelos populares que uma vez mais viram o seu território, o seu património e os seus sonhos serem atingidos pelas chamas.
A revolta das populações, algumas apanhadas completamente de surpresa e sem qualquer auxílio das autoridades competentes, fez-se notar de tal forma que nem as Jornadas Mundiais da Juventude conseguiram abafar por completo.
Imagens televisivas e publicações nas redes sociais são disso testemunho. Então se não têm ordem para apagar porque motivo se criam tantas estruturas de combate? Porque se contabilizam afinal tantas centenas de homens de tantos meios para uma frente de incêndio entre Bombeiros Voluntários, Força Especial de Bombeiros, GIPS, Protecção Civil, ICNF, Sapadores Florestais, etc,etc?
Importa em primeiro referir, que a criação de algumas destas estruturas, nunca tiveram como real objectivo, a protecção dos interesses económicos de quem faz do mundo rural uma das mais importantes alavancas da economia do país.
E se a criação da Força Especial de Bombeiros tinha na sua génese a lógica de auxiliar corporações de bombeiros cujo voluntariado era manifestamente escasso, a criação dos GIPS da GNR serviu mais para dar uso aos braços dos militares cuja competência no manejo da esferográfica ficava aquém dos objectivos orçamentais do ministério das finanças.
Importa também referir a crua realidade que muitas destas forças têm como único objectivo, conservar a farda impecavelmente engomada e as botas imaculadamente engraxadas para impressionar os senhores de gravata na formatura matinal, normalmente com cobertura mediática.
Importa também referir que muitas destas entidades contabilizadas como meios de combate, apenas vão alternando o conforto das salas de comando com o ar condicionado das potentes pick-ups com que se passeiam pelo perímetro de incendio, numa espécie de desporto radical dos tempos modernos.
Importa também referir que muitas destas forças, utilizaram mais água engarrafada para saciar a sua própria sede que água das viaturas para apagar incêndios. No final, sobram os mesmos de sempre, os bombeiros voluntários e os populares…
Sim, os incêndios são uma fatalidade a que estamos sujeitos e a ela não podemos fugir. Já a forma como se combatem, ou não, são uma opção política.
A floresta e as populações que fazem do sector um motor de desenvolvimento sustentável do país, seja de forma mais profissional, seja de forma a complementar o seu parco rendimento merecem muito mais.
Merecem um trabalho de fundo, sério e a longo prazo. A propaganda socialista diz-nos que este ano, pela primeira vez, gastou-se mais dinheiro em prevenção que em combate aos incêndios.
E onde se gastou esse dinheiro? Está à vista de todos, Outdoors à beira das estradas, campanhas publicitárias a engordar o orçamento das concecionárias de IP’s e autoestradas, canais de TV, entre outros.
E….como não podia deixar de ser, empregos, muitos empregos, nomeadamente na organização de AGIFS.
Nenhuma destas medidas teve em conta os proprietários florestais, nenhuma destas medidas teve em conta a floresta.
1 Comentário
O comentário da “fatalidade, a que não podemos fugir”, é que eu discordo completamente.
Combata-se os incendiários e verão o resultado