Missiologia: o ‘arder do coração’

 Missiologia: o ‘arder do coração’

Com a participação aberta a quem procura meios formativos em ordem à missão, realiza-se, em Fátima, em casa dos Missionários da Consolata, de 21 a 26 de agosto, o Curso de Missiologia já com 33 anos de traquejo.

É uma iniciativa dos Institutos ‘Ad Gentes’ com apoio das Obras Missionárias Pontifícias.

A metodologia prevista passa por conferências, trabalho de grupos, debates, plenários, testemunhos missionários e oração em comum.

A missão de evangelizar foi confiada pelo Senhor à sua Igreja, à qual enviou o Espírito Santo como garante da continuidade do projeto de salvação.

Nós somos essa Igreja, uma Igreja que existe para evangelizar, para semear. Nela, o Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da evangelização, não deveria encontrar resistências, ser esquecido ou secundarizado.

Porque não se vê nem se torna presente de forma palpável, confia-se demasiado nas próprias forças, técnicas, competências e capacidades. É verdade que temos de sonhar e agir como se tudo dependesse de nós, colocando aí todas as nossas capacidades e saberes, mas na certeza de que tudo depende d’Ele. Invocá-l’O e senti-l’O presente no programar e agir é um dever de cada batizado.

Se assim não for, é possível que se possa ter grandes momentos de entusiasmo. É possível que, como cesta que vai à vindima, até se possa pensar que nunca ninguém fez igual nem saberá fazer, que quem anteriormente por ali mourejou nada fez, que é preciso começar do zero, que agora é que vai ser.

Se alguém assim pensasse e fizesse, daria a entender que seria uma espécie de oleiro a querer moldar os planos de Deus à medida da sua medida, talvez eivada de interesses vários, ideologias e quejandos.

É também de crer que esta atitude em nada facilitasse que a mensagem chegasse ao coração das pessoas, tocasse a sua liberdade, mudasse e direcionasse a sua vida para Cristo. E, como consequência, é possível que logo surgisse o desencanto, a frustração, pois nada adianta correr muito se estamos na estrada errada.

Esperava-se que muita coisa acontecesse e nada aconteceu, que outra não tivesse acontecido e aconteceu mesmo. Fez-se muito trabalho, sim, dirão. Mas talvez não passasse de mera agitação comunitária, de iniciativas bem agendadas e talvez melhor concretizadas e aplaudidas, mas isoladas de qualquer processo formativo centrado no essencial. A evangelização nunca foi fácil, é verdade. Hoje, porém, não é mais difícil nem mais fácil, ‘é diferente’, afirma Francisco (cf. EG263).

Se é diferente, tem de ser diferente. E esse é que é o busílis!… Todos temos responsabilidades, todos vamos batendo com as mãos no peito por não sermos capazes de estimular, de programar melhor e mais eficazmente para evangelizar pessoas, famílias, estruturas e comunidades.

Mas todos vamos apostando, fazendo experiências, desejando o melhor. Todos sabemos que, mais do que de iniciativas pontuais, mesmo que bem-sucedidas, precisamos de uma pastoral de processos, de planeamento formativo que evangelize e apaixone, com objetivos centrados, não na lei, mas na Graça, em Jesus Cristo, na Palavra de Deus.

Se falta o verdadeiro espírito de evangelização, o fascínio, o encanto, a vida, a capacidade de gerar encontro com o Senhor, a alegria de formar discípulos, mas discípulos missionários, não se chegará longe.

Os apelos da Igreja, porém, continuam a ser fortes e claros, mas precisam de ser acolhidos no coração de cada um, sem medo nem pessimismos.

Na Mensagem para o Dia Mundial das Missões, o Papa torna presente a imediata atitude dos discípulos de Emaús, quando, à partida, as coisas não estavam a correr do seu agrado.

Tudo quanto, por aqueles dias, estava a acontecer em Jerusalém não lhes augurava nada de bom, não ia de encontro aos seus interesses. As coisas não corriam como eles as sonhavam e queriam que acontecessem.

Confusos e desiludidos, deixaram esfriar o coração e cederam à tentação de deixar a comunidade dos discípulos e regressar a Emaús, isto é, ao seu cantinho de conforto, ao sofá.

O pessimismo invadira-os, a esperança de que Jesus fosse realmente o Messias esvaziara-se neles, sentiam-se frustrados e inseguros. Pelos tempos adentro, porque a lógica de Deus não é a nossa lógica, com certeza que continuará a haver quem, tal como eles, acarinhe dúvidas, inquietações, desilusões, vazio, resistência, demissão e isolamento, afastando-se da comunidade e afunilando-se pelo caminho dos seus Emaús.

Esse é o caminho das soluções fáceis, do deixar cair os braços, do pensar que não vale a pena, de dar o tempo gasto como tempo perdido, de se orientar pelas meras impressões ou aparências.

Ninguém deve esquecer que o Senhor “é maior do que os nossos problemas”, que a missão que Ele nos confiou “é d’Ele e nós somos simplesmente os Seus humildes colaboradores”, que Ele não falha, não falta, não se esconde nem se ausenta.

Quando deixamos enfraquecer em nós a vida nova que Cristo nos conquistou, quando duvidamos da promessa que Ele nos fez de ser nosso companheiro de viagem, quer na vida quer na missão, quando esquecemos a mensagem do presépio, da cruz e do cenáculo, tudo se torna possível e amargo.

É por isso que “a conversão missionária permanece o principal objetivo que nos devemos propor como indivíduos e como comunidade”. E se todos os povos ‘têm o direito de receber o Evangelho’, nós, os cristãos, temos “o dever de o anunciar sem excluir ninguém, não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível”.

A família é o primeiro ‘ginásio’, com uma variedade imensa de instrumentos a utilizar para treinar todas as dimensões da pessoa para amar a Deus e aos outros com responsabilidade e proveito mútuo.

Aí se evangeliza, se aprende a evangelizar, se toma consciência de quão importante é a oração, a oferta do sofrimento, o estímulo que se dá, o compromisso na comunidade e o apelo ao testemunho de cada um no ambiente em que vive, estuda, trabalha ou se diverte.

A comunhão, a participação e a ação missionária muito dependem deste ‘arder do coração’, de cada um reconhecer e viver o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, de trazer “o seu fogo e a sua luz no olhar”.

É esse o único “amor que torna sempre jovem a Igreja em saída, com todos os seus membros em missão para anunciar o Evangelho de Cristo”.

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