Memórias duma contemplação reflexiva
Dia de reflexão é a designação dada em Portugal ao dia antes daquele em que decorre o acto eleitoral, durante o qual está vedado às formações partidárias o apelo direto ao voto.
Assim sendo, hoje dia 8 de Junho de 2024, dediquei-o a reflectir, a pensar, voltar atrás, ponderar sem limites de tempo e espaço, detendo-me também a analisar uma sucessão de ideias que livremente afloravam ao meu pensamento, à minha memória, que imbuída de luzes em termos poéticos ou em prosa cuidada, alimentaram a minha vida e, naturalmente, sempre me conduziram à Esperança, num Mundo Maior e Melhor.
“ Ser intensamente patriótico é, primeiro, valorizar em nós o individuo que somos, e fazer o possível porque se valorizem os nossos compatriotas, para que assim a Nação que é a suma viva dos indivíduos que a compõem, e não o amontoado de pedras e areia que compõem o seu território, ou a colecção de palavras separadas ou ligadas que compõem o seu léxico e a sua gramática – possa orgulhar-se de nós, que, porque ela nos criou, somos seus filhos e seus pais, porque a vamos criando”.
Partindo deste texto de Fernando Pessoa não me foi difícil reflectir e decidir qual a opção do meu voto.
Esta devoção terá surgido pela primeira vez na Batalha de Ourique, pelo ânimo que deu às tropas cristãs comandadas pelo nosso jovem monarca, D. Afonso Henriques, face aos invasores muçulmanos, que apesar de serem em número muito superior, dela saiu vitorioso.
A Batalha de Ourique desenrolou-se em 25 de Julho de 1139, significativamente de acordo com a tradição, no dia do provável aniversário de D. Afonso Henriques e de São Tiago, que a lenda popular tinha tornado patrono da luta contra os mouros; sendo um dos nomes populares deste santo, o “mata mouros”.
A tradição narra também que, naquele dia, consagrado a Santiago, o soberano português teve uma visão de Jesus Cristo rodeado de anjos, na figura do Anjo Custódio de Portugal, garantindo-lhe a vitória no combate que ia travar.
Esta crença quase desapareceu depois do séc. XVII. Porém o 10 de Junho começou a ser particularmente exaltado com o Estado Novo, o regime instituído em Portugal em 1933 sob a direcção de António de Oliveira Salazar e também foi a partir desta época que o dia de Camões passou a ser festejado a nível nacional.
Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional do Jamor, em 1944.
A partir de 1963, o 10 de Junho tornou-se uma homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial.
Com a Terceira República o período da História de Portugal, que corresponde ao regime democrático estabelecido após a Revolução de 25 de Abril de 1974, esta data passou a denominar-se a partir de 1978 como sendo o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Para que serviram as aparições do Anjo em 1916 e de Nossa Senhora em Fátima, no ano de 1917? Para recordar ao mundo, cada vez mais esquecido, que a vida na terra é algo temporário, frágil e passageiro, que o nosso fim último não é este mundo, mas na eternidade.
Fátima apresenta-se como uma resposta do Céu à noite cinzenta e metafísica do mundo de então, com um predomínio excessivo da ciência, da técnica, com laivos desumanos e destrutivos, como o desenrolar do século XX nos veio comprovar especialmente nas duas grandes guerras, mas não só, pois prolongou-se pela segunda metade do século e neste em que estamos, ainda se mantém e faz muitos distúrbios, guerras, mortes, medos e atentados terroristas.
Porém, o homem não desiste de procurar estratégias políticas para corrigir, melhorar e dar ao mundo novas esperanças. Por isso vamos todos votar no dia 9, porque é nosso dever colaborar com o País na conquista da Paz, da Segurança e da Educação.
Nesta área apraz-me recordar um texto de Olavo Bilac que tanto nos pode ajudar a refletir e a compreender o mais elementar da importância de um bom ensino que tanto escasseia em Portugal:
“ A educação liceal é a que mais aproveita, é a que mais contribui para formar o homem; e quase sempre ela sozinha basta para dar ao cidadão todos os recursos mentais que lhe são necessários para viver, pensar, agitar-se e vencer.
Não vos iludais sobre o valor dos estudos que possais fazer depois destes; daqui a pouco, não achareis facilmente, no escasso tempo da nossa vida, muitas horas que possais dedicar à meditação; a rede das necessidades múltiplas da existência vos colherá nas suas malhas apertadas; o trabalho, lei fatal, impor-vos-á a sua tirania; e, escravizando a vossa actividade, empolgar-vos-ão deveres civis, deveres profissionais, deveres de família, deveres de sociedade.
Que seria de vós, do vosso cérebro, da vossa dignidade de animais pensantes, se daqui não houvésseis levado uma boa provisão de ideias e de noções precisas sobre as leis que regem o meio e o vivente, a natureza física e a natureza moral?
A cultura geral, a que dá o conhecimento, não perfeito e minucioso, mas claro e suficiente da vida – essa somente o curso liceal a pode dar: esta educação é o sedimento indestrutível, substrato permanente que conservareis no espirito até à velhice e à morte!
Complemento e coroamento da escola primária, o Liceu é verdadeiramente uma fábrica de homens; entra para ele um espirito débil, mal constituído, exposto a todos os perigos que a ignorância gera e mantém: ao cabo de pouco tempo, a nutrição científica e o exercício das faculdades mentais transformam esse esboço de espírito em um animal fértil e criador”.
Foi escrito há várias décadas, mas a sua actualidade permanece como necessidade básica da humanidade. A premência da mudança impõe-se no estilo camoniano:
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.»
Não olvidando que “ No mundo não tem boa sorte senão quem tem por boa a que tem”, continuarei a reflectir neste dia, mantendo a forte ideia de cumprir o meu dever cívico com alma, coragem, empenho, dignidade e crença de que a Verdade vencerá.
Entre a reflexão e a poesia deixo um pouco do nosso Antero…
«Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!» Sempre refletindo e lutando, na senda de António Gedeão, eles lutam porque sabem que «O sonho comanda a Vida!»