Manhãs de Março (Parte I)

João Paulo Marrocano
11 de Março de 1975, o país acordava perto de uma guerra civil.
A esquerda marxista radical havia tomado conta da revolução de Abril de 74 e tinha receio de vir a perder nas urnas, o que tinham ganho nas manifestações de rua.
A última tentativa encetada por Spínola acaba gorada e derrotadas as forças militares que o apoiavam, acaba refugiado em Espanha e posteriormente exilado no Brasil.
A 12 de Março dá-se inicio à ocupação massiva e nacionalização de herdades, empresas, casas, etc. Algumas das herdades mantiveram-se na mão dos comunistas apenas e só enquanto houve alimento disponível para as almas deslumbradas pelo discurso inflacionado do marxismo trotskista.
Era o início do anárquico Verão quente de 1975, que terminaria a 25 de Novembro com a reposição da vontade popular expressa em voto, em detrimento da vontade expressa de uns quantos aspirantes a ditador.
11 de Março de 2024, 49 anos depois, o país acorda com uma monumental viragem à direita.
E se em 1975 são os políticos usurpadores do poder que não querem governar segundo as regras democráticas que se avizinham saídas das primeiras eleições livres marcadas para o mês seguinte, desta vez é o povo que expressa nos votos o seu grito de revolta contra os tradicionais políticos sempre democraticamente eleitos.
Desta madrugada resultam duas perguntas.
Como chegámos aqui?
A culpa é em boa parte dos portugueses todos no seu geral, num país com uma cultura democrática muito baixa, onde metade do povo se contenta com o conforto do sofá em dia de eleições, nasceu no seio dos partidos (todos sem excepção, onde incluo o CDS-PP, partido onde tenho algumas responsabilidades) o oportunismo em fazer da nobre arte da política uma forma de vida.
Em vez de servir o estado, passamos a servir-nos do estado.
Os partidos políticos do chamado arco governativo foram ocupando lugares chave com gente de mediocridade gritante para satisfazer clientelas internas e pagar favores necessários à manutenção do seu próprio ego.
O aumento de impostos foi aumentando proporcionalmente à subsidiodependência, à corrupção, compadrio e promiscuidade entre políticos, política e negócios privados.
Os políticos, e boa parte da sociedade foi ostracizando o CHEGA, acusando-o de radicalismo, populismo, fascismo, e mais uma infinita lista de adjectivos, enquanto dizia ao povo que neste velho país estava tudo bem.
Foram dizendo ao povo que bons governantes eram os Cavacos Silva deste mundo que em tempo de vacas gordas sempre fecharam os olhos a todo o tipo de subsídios distribuídos por quem conhecia as manhas da burocracia em detrimento do manejo das alfaias agrícolas, arrastando a agricultura e indústria portuguesa para as estatísticas residuais de produtividade.
Foram dizendo ao povo que era com os Sócrates desta era que Portugal alcançava o pódio mundial do desenvolvimento tecnológico.
Foram dizendo ao povo que Os Cabritas, Galambas que decidiam o nosso futuro entre trapalhada atrás de trapalhada eram afinal portugueses de pedigree superior.
Enquanto tudo isto acontecia, o povo foi tolerando comediantes de esquerda caviar que ostracizavam André Ventura, mas sem coragem de o olhar nos olhos.
O povo foi tolerando um residente da República, sempre mais atento ao enquadramento dos selfies que vai tirando pelo mudo fora que aos problemas do seu país.
O povo foi tolerando um Augusto Santos Silva, nódoa maior da nossa diplomacia que dividiu os seus pares de hemiciclo entre legítimos ilegítimos, mantendo a presidência da Assembleia da República com um cinismo que a história julgará.
(Continua….)