Humanizar o parto
“Para mudar o mundo primeiro é preciso mudar a forma de nascer.”
O título refere-se a uma frase de 1975 do primeiro livro de Michel Odent, obstetra francês que desde então junto com outros especialistas, defendem que uma mulher durante o trabalho de parto, assim como qualquer outro mamífero, precisam apenas de se sentirem seguras e não se sentirem observadas. Seguras como? Ao serem ouvidas e respeitadas em suas necessidades básicas.
Não estou aqui para defender nenhum tipo de parto porque para isso há outros aspetos sócio-culturais envolvidos. Mas é preciso saber mesclar o instinto e a ciência para desconstruir mitos criados no início do século passado que já estão de todo ultrapassados e que estudos científicos modernos comprovam que em nada ajudam e muitas vezes só atrapalham e prejudicam o bem estar e a saúde da mãe e do bebé.
Estou a esclarecer pois há duas ou três gerações de mulheres que não fazem ideia do que um parto pode ser. Uma ideia é a capacidade de aprender a amar que é iniciada com as primeiras contrações no início do trabalho de parto junto com a oxitocina: a “hormona do amor que afasta os medos” e desempenha sua função na forma como os humanos se relacionam uns com os outros e em comunidade. Outra ideia é de humanizar o parto e o olhar como um acontecimento natural (com um agrupamento de assistências) e não como uma patologia. Há inúmeras outras ideias mas quero aqui focar na humanização.
Humanizar o parto é oferecer à mulher assistência física e emocional, confiança e segurança, informações sobre a fisiologia do parto, providenciar evidências científicas que explicam os riscos e benefícios das opções e tempo para a decisão. Humanizar um nascimento é proporcionar equipas multidisciplinares para acompanhar as mulheres na pré-conceção, durante a gravidez, no trabalho de parto e no pós parto, o que aliviaria muito o sistema de saúde porque é possível fazer muito mais com menos recursos, desde os centros de saúde até aos hospitais. Humanizar um parto seja ele domiciliar, hospitalar natural ou cesariana eletiva é assegurar o direito das mulheres participarem ativamente nas decisões como apresentar um plano de parto, escolher o ambiente, posições e métodos alternativos de alívio da dor, ter a presença de acompanhante. Humanizar um parto é também garantir o direito da mulher denunciar casos de violência ou negligência obstetra que causam traumas físicos e psicológicos.
A humanização do nascimento e a mudança do mundo chegaram com a promoção de um diálogo efetivo com profissionais de saúde materna, alterando paradigmas e apoiando pesquisas e investigações que justificam ou não atuais protocolos hospitalares. É um caminho longo mas possível de ser trilhado com amor, respeito e as ferramentas certas!
Indicação de leitura para aprofundamento do tema:
- “Recomendações da OMS: cuidados para uma experiência de parto positiva”
- livro “Para um nascimento sem violência” de Frederick Leboyer ;
- filme documentário “O Renascimento do Parto” (1, 2 e 3).
Isabela Ferro