Hoje e sempre pessoa

imagem retirada de http://paroquiagloria.org

Em plena época de preocupações, alertas, chamadas de atenção para os alterações climatéricas, as fraudes, as calamidades de toda a ordem e espécie, mais a saúde mental,
a educação sexual ou ideológica nas escolas, as lacunas na aprendizagem que vigoram nos estabelecimentos de ensino, mais as vantagens e desvantagens duma inteligência artificial, que de todo pode ultrapassar e inteligência dita natural,
com um acentuada tendência para a construção de armamento bélico, letal, fatídico, usado e abusado por potências em permanente desassossego como nos é dado constactar pelas trágicas notícias que nos vão chegando de atentados, guerrilhas, ultrajes e mortandade perpectuada por esse mundo além,
apraz-me citar um poema do nosso Fernando Pessoa, recordando que todo o ser humano é menino de sua mãe,
é um ser que veio ao mundo com direito a viver, ser feliz, dar alegrias a seus pais e não ser usado como coisa para morrer em prol de nada, ou simplesmente como se dizia, ser carne para canhão.
O menino da sua mãe
No plaino abandonado Que a morna brisa aquece, De balas traspassado — Duas, de lado a lado —, Jaz morto, e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino da sua mãe». Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lha a mãe. Está inteira E boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: «Que volte cedo, e bem!» (Malhas que o Império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe.
