Inês Cardoso – “Fazer o melhor a cada dia, com alma”

Foto: Jornal de Notícias
A proencense Inês Cardoso é a nova diretora do Jornal de Notícias (JN). Até agora diretora-adjunta, Inês Cardoso substitui Domingos de Andrade, que passa a assumir a direção-geral do grupo GMG e a direção da rádio TSF. Como reagiu ao convite? Quais as novas responsabilidades e desafios? Que perspetivas tem para o futuro? Inês Cardoso está hoje na grande entrevista do Jornal de Proença.

Jornal de Proença (JP) – De diretora-adjunta para diretora. De forma a explicar, para quem não está por dentro da organização de uma redação, o que é que muda com este novo cargo, e quais são as novas responsabilidades?
Inês Cardoso (IC) – Apesar de haver uma continuidade e uma grande estabilidade na equipa, a mudança de cargo traz uma responsabilidade acrescida e um olhar mais abrangente em relação ao grupo em que o “Jornal de Notícias” está inserido. Responsabilidade perante a redação, uma vez que me cabe escolher as chefias e modelo de organização, bem como dialogar com o Conselho de Redação e acompanhar as questões de funcionamento que vão sendo suscitadas. Responsabilidade perante os outros títulos do grupo, com quem passo a dialogar de forma mais direta e frequente, alinhando projetos e ideias em relação ao que podemos fazer em conjunto. Responsabilidade perante os leitores, uma vez que passo a ser o rosto, em termos de visibilidade, de uma redação e de uma marca. E até responsabilidade do ponto de vista criminal, uma vez que o diretor responde solidariamente por todas as ações que possam ser levantadas na sequência de uma notícia ou manchete do jornal.
JP – Quais vão ser os principais desafios e raios de ação enquanto diretora do JN?
IC- Uma das prioridades imediatas passa pela inovação da abordagem ao digital, que pressupõe uma mudança de organização e de rotinas de trabalho da redação. O jornal impresso continua a ser essencial na forma como ajudamos a descodificar e arrumar a atualidade, mas somos uma marca com várias plataformas e é essencial dinamizarmos a nossa abordagem online, dando mais densidade e diversidade de formatos ao site. Temos, por outro lado, o desafio da pandemia, que alterou a relação dos leitores com os jornais, nomeadamente devido ao encerramento de muitos quiosques e postos de venda, e cada vez mais faz sentido procurarmos novos caminhos para chegar a quem consome informação, repensando o modelo tradicional de distribuição.
São tempos complexos para se estar neste setor, mas acabam por trazer motivação acrescida.
Inês Cardoso
JP – Os órgãos de comunicação social também estão neste momento numa situação complicada, sente que isso aumenta a responsabilidade nos novos desafios que agora enfrenta?
IC – Sem dúvida que o momento é de particular fragilidade. Não podemos esquecer que o setor dos media atravessa dificuldades há anos, há cerca de duas décadas, e o colapso económico em nossa volta agudiza essa crise. O modelo de informação aberta e livre, a que se somou depois o fenómeno das redes e da circulação de dados e boatos sem qualquer verificação, veio dinamitar o modelo de negócio e obrigou a repensar o valor que damos à informação. Curiosamente, a pandemia teve um efeito catastrófico na economia e na publicidade, mas teve também uma consequência positiva: tornou mais evidentes os riscos da informação falsa e a importância do papel de escrutínio, validação e confronto de fontes por parte dos meios de comunicação social. São tempos complexos para se estar neste setor, mas acabam por trazer motivação acrescida. Há novidades a surgir a todo o momento, histórias de pessoas com a vida virada do avesso, e é nossa missão procurar o que é verdadeiro, o que é relevante e o que do ponto de vista humano vale a pena contar. É um trabalho infindável de questionamento e de reflexão sobre o que nos rodeia.
São inevitáveis as dúvidas sobre se tenho o perfil e as competências adequadas para a missão, mas senti que não era altura para virar a cara e recusar dar o melhor que posso
Inês Cardoso
JP – Como é que reagiu quando lhe fizeram o convite?
IC- Não tive grande margem para hesitações. São inevitáveis as dúvidas sobre se tenho o perfil e as competências adequadas para a missão, mas senti que não era altura para virar a cara e recusar dar o melhor que posso para que o JN continue a ser um jornal que coloca as pessoas e os territórios no centro das notícias.
JP – Quais são as perspetivas para o futuro?
IC- Para o JN, são de estabilização e de valorização do papel único que desempenha no panorama nacional e sobretudo a Norte do Mondego, onde é hegemónico. A nível pessoal, não faço planos. Nunca imaginei estar nesta posição e acabei por fazer, profissionalmente, muitas coisas que nunca tinha projetado. Resta-me continuar a tentar fazer o melhor a cada dia, com alma.