Fazer o futuro da Cimadas mais risonho

Entrevista a Virgílio Dias Moreira que publicou o livro “Cimadas.

Como surgiu a oportunidade de escrever este livro?
As oportunidades não aparecem ao acaso. Há já algum tempo que tinha em mente escrever este livro e vai daí, tomei a decisão. Procurei quem o patrocinasse e tive no Município de Proença um parceiro, disponível para tal, oportunidade essa, que agarrei, com unhas e dentes e mãos à obra fui arrumando ideias e o livro foi ganhando corpo.
Qual é o seu principal objectivo?
O objetivo principal do livro é deixar às gerações vindouras um retrato, o mais real possível das Cimadas, para que no futuro possam responder às interrogações tais como: como aqui chegámos? O que foram as Cimadas através dos tempos? O que são hoje e o que poderão ser no futuro.
O que é que este livro apresenta?
Nas páginas deste livro apresento as memórias esquecidas, as tradições, os saberes de outrora, as personagens e factos, que figuram na nossa memória coletiva, muitos deles esquecidos e que por via deste livro hoje aqui relembramos. Aqui também constam as vivências, duma comunidade, ao longo do tempos, que com realismo e imparcialidade relato porque como afirma a historiadora brasileira Helena Pignataria ” Um povo sem história é um povo sem memória”
Como é que aconteceu o processo de recolha de informação para a publicação deste livro?
Foi um processo que fui adaptando ao desenrolar do andamento do livro. Como já tinha recolhida muita informação foi surgindo o sonho de escrever um livro sobre as Cimadas. A informação foi encaixando, pouco a pouco, nos capítulos do livro. Cabe aqui referir que tive também de me socorrer, além das que possuía, como foi o caso do Jornal da Paróquia de Proença-a-Nova que me forneceu muita informação de âmbito religioso, ao Arquivo Municipal, ao dicionário geográfico do padre Luís Cardoso e ainda dum livro de apontamentos, que um dos Tesoureiros da nossa capela, o Senhor Francisco Fernandes Bernardo, no qual registava todas as vivências que ocorriam relacionadas com a capelania. Socorri-me ainda de testemunhos transmitidos oralmente, que tinha recolhido de pessoas da comunidade das Cimadas.
Quais as principais dificuldades?
A principal dificuldade que tive e que julgo ser comum a quem escreve um livro deste género é organizar toda a informação recolhida e arrumá-la, onde tem que estar para dar um sentido ao livro. Outras houve de pequena monta, mas que com persistência se foram vencendo.
Sempre teve uma vida ligada aos livros. Era um sonho ter um livro seu sobre as Cimadas?
Na casa de meus pais, sempre houve, desde pequeno, livros, pois eles sabiam ler. Não eram livros de Cowboys, mas livros de índole religiosa e não só, que me despertavam a curiosidade de abrir, inclusive um exemplar da Monografia do Padre Manuel Alves Catarino 1ª ed. 1933. Depois veio o Seminário e de seguida as bibliotecas da Gulbenkian. Quem diria, que um dia e durante 27 anos, iria trabalhar para a moderna biblioteca Municipal de Proença-a-Nova, onde o livro é rei. Passou uma grande quantidade de livros pelas minhas mãos, mas faltava um sobre as minhas Cimadas. A ideia – projeto/ sonho começou a germinar e, por fim, as Cimadas têm um livro, que regista todo um conjunto de informação variada à mão dos Cimadenses e não só.
Como é que se sente agora que o livro está finalizado e apresentado?
O livro já estava finalizado há algum tempo, mas apareceram alguns escolhos pelo caminho, que foram adiando a sua apresentação. Contudo, foi uma oportunidade de limar algumas arestas.
Agora que chegou o dia 23 de Março, com a sua apresentação, sinto-me de coração cheio e aliviado do compromisso que perante mim mesmo tinha assumido de não deixar a informação nele constante na gaveta. Fiquei deveras emocionado, com a aderência dos Cimadenses e não só, na cerimónia da apresentação, o que é bom sinal e me leva a continuar a investigar mais ainda sobre as Cimadas.
Que futuro deseja para as Cimadas?
Hoje as nossas Aldeias, para poderem continuarem a existir como comunidades vivas, terão que saber cativar aqueles que partiram e com eles manterem uma ligação estreita; terão que ser espaços convidativos à integração dos que decidam para nelas virem viver, sem pequenas guerrilhas consumidoras, por vezes, de energias tão necessárias à criação dum ambiente de sã convivência. Manterem com as Entidades Públicas, um relacionamento aberto e participativo. Alicerçar o futuro, na sua memória passada. Às Cimadas desejo um futuro risonho e tê-lo-ão se os Cimadenses em conjunto trabalharem cumprindo o sentido implícito nesta frase proferida pelo antigo Presidente Norte-Americano John F. Kennedy e aqui adapto à realidade Cimadas “não perguntemos o que é que as Cimadas podem fazer por nós; perguntemos o que nós podemos fazer pelas Cimadas”. Cerrando fileiras em conjunto, podemos fazer o futuro das Nossas Cimadas mais risonho.
