Entrevista: “Satisfação e orgulho”
Perto de chegar aos 50 anos de existência, a “Óptica Jacinto” foi a primeira empresa na área da saúde visual a chegar à região. Manuel Jacinto e Fernanda Jacinto iniciaram um trabalho conjunto que hoje é partilhado por toda a família. Nesta edição da Grande Entrevista do Jornal de Proença ficamos a conhecer melhor a história desta empresa familiar.
Vamos recuar a 1975, quase 50 anos, fazem este ano 48. Como é que surgiu a “Óptica Jacinto”?
A “Óptica Jacinto” surgiu quando eu, e a minha mulher, viemos de Angola. Eu sou do Chão do Galego e quando chegámos dei uma volta ao concelho para me conseguir instalar. Como não encontrei nenhum espaço, fui a Castelo Branco e encontrei uma casa que estava em construção. Na altura falei com o proprietário e ficou combinado em alugar o espaço. Nesse intervalo de tempo venho a Proença e encontrei o proprietário do espaço onde estamos hoje, o sr. Jorge Xavier. Na altura pedi que me alugasse o espaço até a casa de Castelo Branco ficar pronta. E assim foi. Instalei-me, na altura ainda houve quem me avisasse para não o fazer. Diziam que isto era um meio pequeno e que as pessoas estavam habituadas a ir para outros lados obter este tipo de serviços.
Mas na altura aqui no concelho e concelhos vizinhos não havia nada dentro da área…
Não, não havia nada. Eu como tinha conseguido este espaço, até o de Castelo Branco, ficar pronto comecei a trabalhar aqui. Comprei alguns materiais e tinha outros que trouxe de Angola. Comecei então a trabalho e sempre com honestidade, cumprindo com tudo e todos e comecei a ver que um cliente trazia outro e assim sucessivamente. No fim de algum tempo cheguei à conclusão que tinha muito trabalho, que as pessoas estavam a gostar e que chegavam mesmo a preferir os meus serviços do que a ir a outros lados, que ficavam mais longe. Ganhei confiança, e como esta é a minha terra, é aqui que estou bem, e tinha os filhos para educar, falei novamente com o senhor de Castelo Branco. Como a casa lá ainda não estava pronta, disse que já não queria o espaço. Acabei por estabelecer a empresa aqui e como disse, a trabalhar sempre com muita honestidade. E claro que as pessoas ajudaram muito porque desde o primeiro dia que começaram a vir ter comigo.
Correu tão bem que se viu obrigado a abrir outro espaço na Sertã. Como é que isso aconteceu?
Sim. Na altura recebia gente de Vila de Rei, Vila Velha e de outros concelhos. E como da Sertã vinha muita gente mesmo lembrei-me de lá ir procurar um espaço para abrir também lá um consultório. Na altura ninguém me queria alugar nenhum espaço até que encontrei um senhor que gostou da minha maneira de ser e me alugou o primeiro espaço que tivemos na Sertã. O espaço precisava de obras. Eu fiz as obras e abri o espaço. Então estava de manhã na Sertã e de tarde aqui em Proença.
E com tudo já passaram quase 50 anos. Pelo que estou a perceber, e sei, foi sempre um trabalho que os dois fizeram em conjunto e que os filhos decidiram seguir as pisadas. Como é que foi perceber que os filhos iam dar continuidade a este projeto, que no fundo acaba por ser um projeto de família?
A minha mulher aderiu a isto de uma forma formidável e começamos a trabalhar os dois, muitas vezes das 8 da manhã à meia noite. Já os nossos filhos sempre lhe demos liberdade para tirarem o curso que quisessem. A única coisa que me interessava é que eles chegassem a ser mais que eu. No final eles acabaram por começar a gostar também desta área e licenciaram-se: a Ana e o João. O Jorge também se licenciou, ainda chegou a trabalhar, mas acabou por dar outro salto e hoje é o presidente das Casas do Benfica. O Carlos também foi para a Covilhã para o mesmo curso, mas no meio decidiu parar e tirar Educação Física, mas também terminou o curso de óptica. No final formou-se esta empresa familiar.
Acham que isso acabou por ser uma vantagem para a empresa?
Penso que sim. As pessoas começaram a ter confiança em nós, os filhos continuaram com a mesma imagem. Os nossos filhos foram formidáveis, e só tenho que lhes agradecer, tomaram conta da situação e cá estamos há 48 anos.
Os tempos evoluíram, e as coisas foram mudando, como é que foi acompanhar essa evolução na vossa área?
Foi fácil acompanhar essas evoluções. Eu fiz sempre questão de ir a todas as formações e acompanhar totalmente todas essas evoluções. Fui modernizando todo o material. Nunca ficámos para trás em coisa nenhuma. Se achava que um determinado aparelho ajudava mais e era melhor para o meu trabalho eu investia. Mas fiz questão sempre de evoluir.
Quando começaram eram a única Óptica. Como é que foi reagir quando apareceram outras opções?
Primeiro que tudo dizer que o sol quando nasce, nasce para todos. E depois dizer que isso nunca me assustou. Sempre trabalhámos com muita honestidade e tínhamos certeza daquilo que fazíamos. A parte profissional e científica nunca nos meteu medo. E a proximidade que fomos criando com os clientes sempre foi a base do nosso sucesso e por isso quero agradecer a todos por terem estado conosco e por toda a ajuda que nos deram.
O que é que fica depois destes 48 anos?
Sinto muito orgulho e felicidade. Tanto aqui como na Sertã, entro em qualquer lado e as pessoas, muitas que já nem sei quem são, tratam-me sempre bem e reconhecem o meu trabalho. Tenho um caso de um senhor que estava em Nova Iorque veio ter comigo com o filho e disse « Sr. Jacinto o senhor foi o primeiro que me receitou óculos e por isso quero que seja o primeiro a receitar ao meu filho.» Senti muito orgulho e confesso que uma certa vaidade. E isso faz com que o nosso nome seja de referência.
Continuam a pensar no futuro da empresa ou isso já está totalmente nas mãos dos filhos?
Construímos a empresa e eles agora têm mais capacidades para continuarem este caminho feito. E temos total confiança neles e no trabalho que realizam.
Se tivessem que definir estes anos numa só palavra. Que palavra escolhiam?
Satisfação e orgulho pelo que fizemos e deixamos para os nossos filhos fazerem.
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