Entrevista: Rui Pedro segue negócio de família

Com mais de 40 anos de existência, a única agência funerária do concelho de Proença-a-Nova acaba de assegurar a continuação de um negócio familiar. Depois do avô e do pai, Rui Pedro, de apenas 22 anos, assume agora o leme do projeto familiar que segue assim para a 3ª geração sendo que Rui gostava de ver ainda chegar à 4ª. Rui Pedro está hoje na grande Entrevista do Jornal de Proença.
Jornal de Proença (JP) – Rui és a 3ª geração a seguir com este negócio de família. Como é que tudo isto começou até chegar ao dia de hoje?
Rui Pedro (RP) – Isto começou tudo, primeiro, com o meu avô Domingos Mendes, nos anos 80/81, foi ele que criou a agência. Depois ele foi para Angola, infelizmente faleceu e ficou o meu pai com a empresa, desde 2001. Desde essa altura que é a Funerária Mendes & Santos até aos dias de hoje. E agora chego eu e espero continuar com o bom trabalho que eles sempre fizeram.
JP – Vocês são a única agência funerária no concelho de Proença, já outras tentaram fixar-se, mas nunca conseguiram. Qual é a vossa imagem de marca e que vos distingue de outras agências?
RP – Eu penso que a base do sucesso esteja no meu pai. Ele é bastante conhecido por todo o concelho e isso ajuda muito. Como as pessoas o conhecem, quando chega a hora de precisar deste tipo de serviços, familiares e amigos é a ele que chamam devido a esses conhecimentos. E as pessoas com isso sabem que a agência vai prestar um bom trabalho.
JP – Achas então que é uma questão de proximidade com as pessoas?
RP – Sim claro, e também pelo facto do meu pai ajudar muito as pessoas. Tratar de um funeral não é só a questão da missa e do funeral há todo um conjunto de papéis e burocracias que precisam de ser tratadas e o meu pai auxilia as famílias em todo esse processo. Em tudo o que o meu pai conseguir ajudar ele ajuda. Isso faz também toda a diferença até porque já devido à morte da pessoa, a família já estará a passar por momentos muito complicados, o meu pai e a agência sempre deram toda a ajuda necessária.
JP – Rui tens que idade?
RP – 22 anos
JP – Não é muito normal ver um jovem de 22 anos, para já pegar num negócio de família, e depois a pegar num negócio de família tão delicado como este. Sentes o peso de dar continuidade a este legado da tua família ou tinhas outros sonhos para a tua vida?
RP – A agência sempre fez parte da minha vida. Eu desde de pequeno que vejo o meu pai a sair para fazer os funerais, a tratar de todos os papéis, como falávamos a pouco, a ajudar as pessoas e isto foi sempre algo que me interessou. Sempre foi uma área que me puxou para eu querer fazer disto o meu futuro. Há algumas partes complicadas, como acredito que haja em todos os trabalhos, e eu ainda estou numa fase de aprendizagem, mas foi sempre isto que quis para a minha vida.
JP – Sentes que podes estar a ser também um exemplo para outros jovens? Não só pelo facto de estares a seguir o negócio da tua família, mas também por estares a mostrar que esta é uma solução e um trabalho tão normal e digno como todos os outros?
RP – Sim. Eu penso que não haja muitos jovens a querer trabalhar nesta área. Acho sinceramente que os que seguem este ramo são mais aqueles, que como eu, já têm ou tinha familiares a trabalhar na área. E sim posso ser um exemplo porque isto não é nada difícil. Como já referi há partes que são mais complicadas que outras, mas é um trabalho normal como todos os outros e verdade seja dita: todos um dia vão precisar deste tipo de serviços. É a lei da vida.
JP – Se não fosse isto, o que é que te imaginavas a fazer?
RP – Essa é uma questão na qual nunca pensei. Eu sempre tive a ideia fixa que era isto que eu queria para a minha vida.
JP – Já referiste várias vezes que há situações nesta profissão mais delicadas e complicadas de tratar. Apesar de teres assumido a empresa a pouco tempo, mas sempre foste acompanhado o trabalho do teu pai. Já passaste por alguma situação que te tenha marcado?
RP – Não há assim muitas situações dessas. As situações que para mim são mais difíceis é quando se trata da morte de alguma pessoa mais conhecida, mais próxima e com a qual eu me dê relativamente bem. Essas são as situações que mais me custam confesso, em particular, mas o processo de preparação do corpo, e que há pessoas que pensam que não somos nós a fazer, aí sim custa. E depois do funeral a parte complicada é a burocracia que já fomos falando.
JP – Voltando um pouco ao início desta tua caminhada. Como é que foi o processo desta passagem de testemunho entre pai e filho?
RP – Eu peguei na empresa recentemente, foi na altura em que acabei o meu curso, em setembro de 2021, e desde essa altura que disse ao meu pai que queria dar continuidade ao negócio da família e que queria começar a andar com ele.
JP – Como é que foi a reação da família? Ficaram felizes por seguires com o negócio da família ou tinham pensado outra coisa para o teu futuro?

RP – Eu penso que eles tenham ficado bastante felizes porque acho que tanto o meu pai como a minha mãe queriam que desse seguimento a este projeto familiar. Eles sempre viram que eu gostava do que eles faziam e como é seguir com uma empresa do meu pai e que já era do meu avô penso que ficaram bastante contentes.
JP – É uma forma de honrares também o teu avô e o trabalho dele?
RP – Sim claro.
JP – Que feedback é que tens recebido da parte dos clientes e por exemplo dos teus amigos? Eles sempre te apoiaram nesta tua escolha?
RP – Sim, tenho tido o apoio de todos. Eles também sempre viram que era algo pelo qual eu mostrava muito interesse e eu sempre disse na escola que esta era a profissão que eu queria seguir. Às vezes quando se marcam saídas entre amigos e eu tenho que dizer que não posso porque tenho serviço eles respeitam isso muito bem e compreendem.
JP – Esse é um ponto interessante porque tu não tens um horário fixo de trabalho, não podes por exemplo fechar a agência num mês como este de agosto para ires de férias. Isso não condiciona a vida? Não pesou na tua escolha?
RP – Não, tenho que estar sempre pronto 24 sob 24 horas. Não pesou na escolha porque sou eu, o meu pai e ainda temos o Gabriel dá para irmos conciliando as coisas entre os três e agora meu irmão também está cá está a ajudar.
JP – Rui perspetivas para o futuro?
RP – A alteração mais visível que já realizamos foi as mudanças aqui no escritório. Estava com um ar muito antigo e fizemos uma reformulação profunda. Para o futuro confesso que gostava de fazer a empresa crescer. Não sair de Proença, mas ir à procura de outros territórios. Mas claro é uma questão de analisar bem o mercado. Mas sempre de forma a manter a qualidade dos serviços que prestamos. Mas quero para o futuro acima de tudo seguir as pisadas do meu pai e ser conhecido e amado pelas pessoas.
JP – Estas a seguir as pisadas do avô, do teu pai. Gostavas que um filho teu um dia mais tarde seguisse também estas tuas pisadas?
RP – Claro que sim! Estamos na 3ª geração e ficaria muito feliz se conseguíssemos chegar à 4ª.