Entrevista: “Profissionalmente sinto que fiquei completamente realizado”

 Entrevista: “Profissionalmente sinto que fiquei completamente realizado”

No mês em que se celebra o Dia do Professor e ainda numa fase de arranque do novo ano letivo, o Jornal de Proença entrevistou o professor António Louro.

Mais conhecido como professor Louro, o agora aposentado docente deu aulas de Educação Física durante 44 anos no concelho de Proença-a-Nova.

Natural da freguesia da Sobreira Formosa, António começou a lecionar no concelho de Proença em 1976 tendo estado nos anos 83/85 na Escola Afonso Paiva em Castelo Branco.

Professor do 2º ciclo (5º e 6º ano) e na creche dos 2 aos 6 anos, o professor Louro recorda uma vida recheada de bons momentos afirmando mesmo que se sente profissionalmente “bastante realizado”.

O professor Louro está hoje na Grande Entrevista do Jornal de Proença

Jornal de Proença (JP) – Isto de ser professor sempre um sonho ou foi algo que aconteceu com o decurso da vida?

António Louro (AL) – Isto surgiu quando estava a terminar o ensino Secundário em Castelo Branco. Eu era para ir para Lisboa seguir engenharia, mas a um mês de terminar as aulas, como praticava desporto no Benfica de Castelo Branco, um colega meu veio ter comigo a perguntar se não queria ir tirar o curso de Educação Física. Eu nem sabia muito bem o que aquilo era. Depois esse meu colega é que me explicou e deu-me o exemplo de dois professores já formados que na altura havia em Castelo Branco. Eu gostei e mudei completamente das engenharias para o desporto.

JP – Perdeu-se então um engenheiro, mas ganhou-se um professor…

AL –O principal é que acho que fiz uma boa opção. Pelo menos eu penso assim.

JP – Foi professor durante 44 anos. Qual é a situação mais caricata que viveu e que ainda hoje gosta de recordar?

AL – Há de tudo! Há coisas boas e menos boas! Eu tive uma experiência no ensino que me abriu logo os olhos no primeiro ano letivo, isto em 76/77. Eu tive que pagar do meu próprio bolso o transporte de certos miúdos para participarem nos campeonatos em Castelo Branco. Dizia-se que era tudo facilidades que eram as Direções Gerais de Desporto que tratavam de tudo só que depois para pagar o transporte dos miúdos que são das aldeias eu tinha que pedir a alguém para os transportar e esse dinheiro tive que o pagar do meu bolso e nunca o recebi. Isso foi uma situação que me fez não querer durante muito anos o desporto escolar. Agora mais tarde é que voltei a aderir porque era com uma equipa da escola de desporto adaptado.

JP – Que avaliação é que faz da evolução no ensino desde esses tempos até hoje?

AL – Quando eu cheguei ao ensino, em primeiro lugar nunca houve aqui ninguém formado em educação física. Eu fui o primeiro professor aqui do concelho formado e a começar a trabalhar em educação física. E depois quando cá cheguei havia muitos espaços livres, mas condições de trabalhos não havia quase nenhumas e material muito menos. Não tínhamos bolas não tínhamos mesmo nada! Começou a haver uma evolução e, entretanto, foram criadas outras condições. Eu agora na fase final até dizia que era fácil dar aulas, tínhamos tudo! Tínhamos todo o material para atingir os objetivos e dar todos os conteúdos do programa.

JP – Mas não sente que a área onde lecionou é esquecida? Falo nisto porque ainda recentemente muitos atletas dos jogos olímpicos falavam numa fraca aposta no Desporto Escolar….

AL – É um facto de pode ser sempre melhorado, mas já se faz algumas coisas na disciplina e disso não tenho dúvidas. Eu sai satisfeito e contente com a disciplina e com as condições de trabalho.

JP – Ainda mantém alguma relação com os alunos?

AL – Tenho! Eu não via só o lado do professor! Via também a parte paternal! Há miúdos com muitas carências a vários níveis! Mas eu via que havia ali certos momentos em que tinha que deixar a imagem de professor de lado e passar para a parte paternal porque eles precisam de afeto em situações que se via que precisavam mesmo. Eu aí sempre lidei muito bem com eles e notava que eles gostavam mesmo do professor.

JP – Vai fazer um ano que está aposentando. Tem saudades?

AL- Tenho muitas! Dos colegas no geral e muito dos miúdos. Já a parte burocrática, os papeis, reuniões dispenso bem. Mas ainda hoje encontro os miúdos por aí, alguns até queriam que eu voltasse. Com todos todos já não, mas ainda tenho uma relação com alguns.

JP – Que mensagem quer para todos os professores em especial aos que estão em início de carreira e uma mensagem também para todos os seus ex-alunos.

AL – Para os professores dizer que tenham mesmo vocação para trabalhar com os alunos porque se não têm vocação as coisas nunca vão funcionar. E não falo só no que ao ensino diz respeito, mas também à parte afetiva. É importante que tudo funcione bem até porque é o fundamental para haver uma boa relação professor- -aluno para que se consigam atingir os objetivos. Aos meus antigos alunos quero só desejar os maiores sucessos e que trabalhem sempre com ideias para atingirem os seus objetivos no futuro. E que esse futuro esse risonho e estarei sempre aqui para o que precisarem.

JP – Como avaliação final… Sente que fez um bom trabalho?

AL – Eu penso que sim! Eu profissionalmente sinto que fiquei completamente realizado!

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