Entrevista: A hotelaria é o bem receber

Natural de Proença-a-Nova, Artur Norberto desde cedo despertou o interesse para a área da hotelaria. Depois de vários anos a obter conhecimento e experiência, Artur decidiu criar o seu próprio espaço e dar valor acrescentado aos produtos da região, nomeadamente o medronho. Artur Norberto está hoje na Grande Entrevista do Jornal de Proença.
Jornal de Proença (JP) – Como é que começou a sua ligação a toda esta área da hotelaria?
Artur Norberto (AN) – Desde miúdo que me fascinava atender pessoas. Lá em casa o meu pai recebia os seus clientes, fazia seguros, e dizia «Artur traz lá um copo de vinho e umas passas de figo» e o Artur já trazia uma bandeja e gostava sempre daquele bem receber. Na altura ouvi falar do Café Central e com 12 anos pedi ao meu pai para ir trabalhar no Café Central nas férias. Fui lavar chávenas e copos, era um café que tinha muito movimento. Fiz lá 5 verões, 5 natais, 5 páscoas e as vezes ia ajudar aos domingos. Depois quando terminei o 9º ano quis ir tirar um curso de hotelaria e fui para Manteigas, para uma escola de hotelaria, e daí comecei o meu percurso. Quando terminei o meu curso comecei a trabalhar na Sertã, na Ponte Velha, e passado meio ano comecei a dar também formação.
Grande parte das vezes as pessoas pensam que a hotelaria é só servir o cliente, mas há muito mais além disso.
Sobretudo é o bem receber. Eu costumo dizer aos meus colaboradores que o cliente quando entra à minha porta para dentro merece a minha consideração. É essa a minha base de tudo.
Falou em formação. Essa parte de ensinar os outros também o fascinava?
Também! Dado à experiência que tinha adquirido profissionalmente na prática conseguia depois na teórica transmitir conhecimentos. Já fiz casamentos de alunos meus. Mas indo ao encontro do que falava em 99 abracei outro desafio na minha vida onde fui trabalhar para o hospital de Portalegre já como responsável da parte alimentar. Com 23 anos era o encarregado do hospital de Portalegre. Estive lá três anos.
Ou seja, dentro do ramo da hotelaria há várias experiências que foi adquirindo ao longo dos anos!
Sim. Como já tinha a prática desde muito cedo, faltava-me aqui a parte de gestão. Eu fui para esta área da restauração coletiva precisamente para que se um dia tivesse um negócio ter uma base de gestão, das contas desta atividade. Na altura como já tinha alguma maturidade e um armazém fazia uns caterings para pessoas amigas. Em 2009 decidi começar a trabalhar por minha conta. Com muita força, muita coragem e muita vontade. Já conhecia a região, as pessoas já me conheciam, quem me conhecia sabia o serviço que eu fazia e era diferenciador do que havia na altura.
É aí então que surge a Quinta das Olelas?
Não. Andamos um ano a fazer catering pelas aldeias, nos centros paroquias, juntas de freguesias, pavilhão multiusos, quintas particulares e há um dia que me falam deste espaço. Era um espaço que estava fechado. Vim cá em agosto de 2010 fiquei deslumbrado com o sítio e disse logo que não iria sair daqui e assim foi. Fez-se aqui um grande investimento, pois era um espaço que estava desacreditado e começámos. Quem nos conhecia foram logo os primeiros a vir conhecer o espaço e assim começou esta aventura.
E 12 anos depois foi aposta certeira?
Foi! Eu sempre acreditei naquilo que fazia. Se não acreditamos no que fazemos vale mais estar quietos. Dado a experiência toda por onde passei, fui recolher um bocadinho dessas experiências, e tudo isso está aqui implantado. E em 2014 tivemos a necessidade de aumentar a capacidade do restaurante.
De todas essas experiências, nos vários setores da hotelaria, qual é a sua predileta?
O cozinhar é fascinante!
Daí as suas criações como as trufas de medronho?
Nós com o tempo vamos tendo um estilo próprio na forma como conduzir o serviço. Na cozinha vamo-nos descobrindo todos os dias. Aqui houve uma necessidade, o restaurante estava fechado por causa da pandemia, eu estava a montar a minha loja da quinta e quando cheguei à parte do chocolate pensei que podia fazer mais do que só ter chocolate. Nós temos aqui os medronhos na quinta e eu consegui introduzir medronho junto com chocolate. Após isso temos a marca “Quinta das Olelas” com gestão de eventos e produtos regionais. O cliente vem a nossa casa prova e produtos e se quiser pode levar.
Ou seja, não é só o servir bem mas é também expandir os seus produtos que têm ligação à nossa região!
Sim, na parte do medronho criámos uma marca porque percebemos que o medronho podia ser muito mais que as trufas, surgindo também a cerveja de medronho e estamos neste momento a testar um GIN de medronho. Fazemos bolos já com o medronho, as nossas tigeladas e broas de mel levam mel de medronheiro.
Pelo que vejo não baixa braça os braços!
Não!
Isso significa então que o feedback dos clientes é positivo?
Sim bastante! É uma experiência que mais ninguém consegue oferecer aqui na região. É tão bom ouvir o feedback das pessoas. É surpreendente e a forma como é feito e é isso que me dá a distinção de dar entidade a uma região. Acho que temos aqui um produto que temos de aproveitar e explorar como fazem noutras regiões do país.
Falasse muito da questão do interior. Acredita que esta área pode ser a chave do sucesso e alavancar a região?
Pode ser uma das chaves, porque não? Antes vivíamos do pinhal, das resinas, das madeiras e o medronho era sempre visto de uma forma mais boémia. Eu, como outros colegas, temos a obrigação de ajudar desmistificar tudo isto. O medronho pode ser utilizado para muitas coisas e tudo isto é um trabalho que não pode ser feito só uma vez por acaso ou quando vamos a feiras. O produto precisa de ser elevado. Tudo tem se ser muito bem trabalhado.
Perspectivas para o futuro?
As perspectivas são muito grandes. Nós neste momento já adquirimos mais terrenos aqui à nossa volta. Estamos numa fase de planificação e já temos uma ideia em papel para um futuro hotel rural para 30 quartos, 10 bungalows e onde a experiência será o medronho.
Ou seja, crescer e dar ainda mais valor aos produtos da região?
Precisamente, a nossa loja é um ensaio do que vai ser no futuro a nossa ideia.