Diamantino André: o pai, o marido, o militar e presidente de Câmara

Onze dias depois da celebração exequial do Tenente Coronel Diamantino Ribeiro André em Montes da Senhora, o Jornal de Proença teve acesso ao “elogio fúnebre” do filho Rafael Vaz André que transmite uma visão familiar do pai, do marido, do militar e do presidente da câmara de Proença.
Entender o homem Diamantino André desde o seio familiar é completar a pegada social e política que ele deixou no Concelho de Proença-a-Nova.
Os tíbios eu os vomitarei!
Esta referência bíblica caracteriza o meu Pai. Era quente ou frio; nunca morno, tépido.
Montês orgulhoso, sobreirense por Amor, o meu Pai foi forjado na guerra e na disciplina militar.
Definir uma visão, gizar uma estratégia, motivar a equipa. Ganhar ou morrer a tentar. Antes quebrar que torcer, disse-me muito recentemente.
O meu Pai, novíssimo, foi capitão de companhia na Guiné o que lhe valeu louvores por bravura debaixo de fogo. Em 2003, mais de 30 anos depois da Guerra, fui com ele a África e testemunhei a emoção com que, do meio das tabankas, apareciam para abraçá-lo.
Os mesmos abraços que vi quando ia à PSP de Coimbra e Castelo Branco e, sobretudo, à Câmara de Proença.
Quando não tinha uma Guerra o meu Pai inventava uma. Era a sua forma de avançar, melhorar continuamente. Esta estranha maneira de ser, belicista, provocava danos, era exigente para a família.
A família.
O meu Pai educou-nos pelo exemplo. Liberdade é responsabilidade, proclamava. Quando se lembrava de me perguntar em que ano eu andava ficava sempre surpreendido com a minha resposta. “Já??”, dizia entre o escândalo e a dúvida. Estou convencido que ainda agora não tinha a certeza de que me tivesse formado.
Tinha orgulho nos filhos mas o seu Amor estava monopolizado para os netos. Do Manel ao Martim – todos, com as suas diferenças.
Enquanto pragmático convicto, o sobrenatural estava quase ausente. Com duas exceções: a Srª do Pópulo que impediu que uma mina pisada numa picada explodisse, como era suposto. Enganou o destino.
“Manga de sorte, Capitão!” Não foi sorte, camaradas. Foi a Srª do Pópulo.
A outra exceção concedida ao sobrenatural foi a relação com a minha Mãe, Maria Rosa. Não vou tentar explicar agora. Não sou capaz mas vai para além do racional, do terreno, do inteligível.
Um Homem de Guerra teve uma derradeira batalha. Encarou-a de frente, como sempre. Assegurou as condições para a Paz. A sua Paz interior. Fez contas à vida e saiu a ganhar. Em bom vernáculo, deu uma gargalhada, que herdei, e mandou-a para onde o sol não brilha.
Ele brilhará e irá iluminar-me.
Dizem-me que sou muito parecido com o meu Pai. Uma Srª dos Montes, muito simpática, exclamou ainda este sábado: “até a voz é parecida!”
Posso ser fisicamente igual, ultrapassar todos os obstáculos; viverei com o orgulho de saber que será impossível aproximar-me da grandeza do meu Pai.
Obrigado Pai.
Montes da Senhora, 28 de novembro de 2022
Rafael Vaz André
Durante a celebração fúnebre, também o seu filho Tiago proferiu palavras de agradecimento e de memória familiar, militar e cívica, não registadas como as do seu irmão.
