Branco e Preto

Nas últimas duas semanas, assistimos uma onda branca a percorrer Portugal.
Na primeira semana, semana nas dioceses, os jovens preparavam um encontro em Lisboa com o Papa Francisco. Na segunda, foi o êxtase em Lisboa com o homem vestido de branco.
Haverá sempre aspetos de melhoria a identificar na JMJ, mas o positivo do encontro supera, em larga escala, esses aspetos a serem corrigidos.
O Papa Francisco, o homem de Deus, nos oitos discursos que fez falou para o mundo, para Portugal, para a Igreja, para bispos, padres, consagrados, leigos…
Não disse nada de novo porque o que disse foi o Evangelho. A novidade está na leitura que faz dos nossos tempos e da forma como o Evangelho deve ser proposta para o mundo e para a Igreja. A novidade esteve na denúncia do mal da sociedade e da Igreja num tom de desafio, sem medo, à mudança para a promoção da dignidade humana e para a vivência autêntica da fé. E a denúncia do mal não humilhou ninguém. Antes foi um convite a reflexão que integra todos aqueles que à partida já se sentem excluídos dos caminhos de Deus.
Desafiou-nos a ser Igreja aberta ao Espírito Santo que renova o crente na adoração e contemplação de Deus na oração silenciosa, mas aberta ao mundo, a cada ser humano, principalmente aos mais pobres.
Ainda o Papa Francisco estava em Lisboa já uma onda preta se estendia no concelho de Proença-a-Nova transformando em Cinzas esperanças e anos de trabalho de muitas pessoas.
Durante esta semana, outras zonas do país traduzem a desesperança daqueles que perdem os seus bens por causa do fogo.
Tal como a Igreja tem este anjo de Deus, Francisco, que é luz para a vida dos crentes na sua pessoa e na sua palavra, também o povo português precisa de novos políticos que sejam construtores da Esperança, saibam dar valor a quem trabalha e promovam uma solidariedade justa.
O fogo é um sinal daquilo que estamos a fazer é insuficiente. Ele mostra claramente que os caminhos que usamos são de egoísmo particular, interesses grupais e do blá blá blá das políticas florestais.
Basta olhar para o exemplo de Pedrógão. Já se fez o memorial das vítimas. E o que se fez pela floresta? E pelos proprietários? Perdem sempre os mesmos. E os mesmos buscam caminhos que nem sempre são construtivos. A floresta cada vez mais desordenada e caótica e mais exposta a incêndios mais violentos. Os proprietários vou abandonando a floresta porque os apoios ficam naqueles que se dizem amigos da floresta.
Falta coragem para fazer um parcelamento florestal e a definição de áreas que permitam a descontinuidade da cobertura vegetativa e a gestão florestal adequada.
O fogo a par da poluição são dois cancros que vão destruindo a casa comum que é o nosso planeta Terra.
O Papa Francisco desafiou-nos a saber viver num mundo sempre em crise buscando, de forma inovadora, novas soluções para os problemas. Não há mundo sem problemas. Pode haver pessoas acomodadas e resignadas perante eles.
A juventude do Papa, gritada nas ruas de Lisboa, quererá, certamente, um mundo melhor. Vamos a isso!