Alimentação: problemas e desafios globais

 Alimentação: problemas e desafios globais

Recentemente, numa aula para alunos que se preparam para trabalhar e, eventualmente, gerir unidades de produção alimentar, apresentei alguns valores, dilemas e desafios que nos interpelam o pensamento e requerem uma ação urgente de cada um de nós, mas acima de tudo dos decisores políticos.

O Eurostat, organismo da União Europeia, divulgou durante o ano de 2020 que, cerca de 12% do consumo das famílias da UE são em bens alimentares para consumo próprio; 8,7% em restaurantes e hotéis e cerca de 3% em bebidas alcoólicas.

Gastam 24% dos seus rendimentos nas despesas de renda ou na prestação da casa, eletricidade, gás e água; 9,1% em cultura e recreio e 13,2% em transportes. Só nestas rúbricas contabilizamos cerca de 70% das suas despesas.

Em contrapartida, a FAO, organização da ONU para a alimentação e agricultura, anunciou que nos países pobres e em vias de desenvolvimento, as famílias gastam entre 60 a 80% dos seus rendimentos em alimentos. São 165 milhões de crianças em todo o mundo as que sofrem de desnutrição e, se todas elas dessem as mãos, podiam formar um círculo à volta da Terra. Nos EUA-Estados Unidos da América desperdiçam-se diariamente 141 triliões Quilocalorias-Kcal em alimentos, totalizando cerca de $US 165 biliões de dólares, que corresponde a quatro vezes mais o valor de alimentos importados por todo o continente africano. Este continente é três vezes maior que os EUA, porém tem apenas 26% de sistemas de regadio para toda a área agrícola. Cerca de 97% das colheitas em África são alimentadas essencialmente pela chuva, de ocorrência sazonal e irregular, com sistemas de cultura muito vulneráveis a pragas, secas, inundações e outros fenómenos extremos.

É no continente africano e, em mais de metade dos países da América do Sul, que a disponibilidade de alimentos em valor de Kcal por pessoa/ dia é menor, ficando abaixo das 1500 Kcal no Centro de África. É igualmente nestes países pobres que a disponibilidade de produtos hortícolas frescos (frutas e legumes) fifi ca mais abaixo (cerca de 50%) das recomendações da OMS, cujo valor deveria ser no mínimo de 400 gr/ dia. É também em África que o acesso à proteína de origem animal é muitíssimo menor (0 a 40kg/ ano/por pessoa) por oposição aos EUA (125kg) ao Brasil e Canadá (ambos 100Kg), sendo estes três dos que mais consomem carne em todo o mundo.

Todos os anos são desperdiçados no mundo inteiro 1,3 biliões de toneladas de alimentos que dariam para alimentar os mais de 700 milhões de seres humanos que não têm nada para comer no dia de hoje. Estima-se que a economia cresça 35% até 2030 e que a China, em conjunto com a Índia, representará 40% do total desse crescimento, incorrendo numa emergente necessidade de alimentos.

A alimentação é um processo dinâmico, fortemente marcado por tendências, saúde e bem-estar, moda, pressão social, crenças, valores, disponibilidade monetária, acesso a bens alimentares, estilos de vida, gostos, entre muitos outros fatores. Mas é absolutamente condicionado pelas políticas dos Estados, pelos programas comunitários da agricultura e alimentação, pelos acordos que se estabelecem no plano da FAO e OMS, mas também nas políticas locais.

Cabe a cada um de nós, no mínimo, uma reflexão sobre estes valores e a problemática a eles associada e, de seguida, contribuir para a melhoria deste complexo problema global e que toca a todos!

Votos de um 2021 com muita saúde, esperança, fé, paz no coração e, não menos importante, uma alimentação mais sustentável!

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