Algor–Ética: reflexão sobre algoritmos

 Algor–Ética: reflexão sobre algoritmos

Será que a vida do Homem pode ser confiada a um algoritmo?

Maria Susana Mexia, Professora de Filosofia

A inteligência artificial está cada vez mais presente em cada aspeto da vida diária, tanto pessoal como social. Incide no nosso modo de compreender o mundo e a nós mesmos. As inovações neste campo significam que estes instrumentos são cada vez mais decisivos na actividade e até nas decisões humanas.

A criatividade da máquina está sempre subordinada a um ou mais fins pré-determinados por um programador. Isto implica que, embora um sistema de inteligência artificial possa modificar-se a si próprio, fá-lo-á sempre dentro dos parâmetros a que está destinado e para o que foi programado. 

Se os fins determinam e definem a criação da máquina, qual será o fim da vida humana? Neste caso o plano espiritual entra em consideração. Para os crentes, o fim do ser humano pode ser responder ao apelo de Deus, para os não crentes uma realização total, em suma, poderíamos dizer que a felicidade é o fim do ser humano. Mas, importa relevar que nesta realidade os seres humanos nascem com a capacidade de estabelecer fins para si próprios, ao contrário de qualquer máquina. 

Mesmo que um sistema de inteligência artificial inclua uma percentagem muito elevada de alterações no seu sistema,nunca podemos programar a enorme variedade de contextos que nascem com o ser humano e que com ele se desenvolvem. Há fins que não podemos criar sem viver, e isto só é possível devido à infinita potencialidade que nos dá o espírito, o nosso conhecimento imaterial. No ser humano, o conhecimento, embora ligado a uma matéria orgânica, não é limitado por ela, devido à sua imaterialidade que a transcende.

Os seres humanos não podendo saber tudo, podem mostrar interesse em sabê-lo; embora sejam ainda limitados, uma vez que não podem substituir a própria evolução do universo. De facto, as mutações naturais continuam a ser um enigma para o Homem. Não podemos programar a evolução, embora possamos conceber dispositivos engenhosos para resolver problemas específicos. 

Para além de tais experiências serem ou não realizadas, a ideia subjacente a tais teses baseia-se numa concepção completamente materialista do ser humano e levanta também certas questões morais e éticas: é possível criar liberdade, são os automóveis autónomos moralmente responsáveis?  Em última análise, uma máquina não é livre, pelo que não pode ser responsável pelas suas acções. Falar de “ciborgues”, ou seres “humanoides” com intelectos programados, acaba por se resumir à teorização de uma nova espécie de escravos com infinitas possibilidades, mas sem liberdade ou responsabilidade.

O desafio consiste em ver onde estão os riscos, orientar a ciência e a tecnologia ao serviço dos seres humanos, mas nunca para os suplantar ou, eventualmente, destruir, prejudicar comprometendo ainda as gerações futuras.

A algor-ética pretende ser uma reflexão ética sobre o uso de algoritmos. É imperioso que este tema esteja cada vez mais presente no debate público, universitário e no desenvolvimento de soluções técnicas.

Se queremos que as máquinas sejam um suporte à humanidade e ao bem comum, sem jamais substituir os seres humanos, então os algoritmos devem incluir valores éticos e não apenas numéricos.

Portanto, não podemos estar à mercê de uma tecnologia que não seja regulamentada a nível ético. As grandes decisões e acções não podem ser definidas apenas por algoritmos ou cálculos matemáticos. A fusão do cérebro com a tecnologia e a inteligência artificial abriria um perigoso campo de evolução.

É essencial pensar a tecnologia com critérios humanos e éticos, com parâmetros que ajudem a delimitar e orientar o seu avanço, sobretudo no campo médico, económico e social. É imperioso e urgente definir criteriosamente uma ética partilhada, relativamente aos grandes desafios no horizonte da inteligência artificial.

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