ACDR Vale da Mua: a Casa do Povo

 ACDR Vale da Mua: a Casa do Povo

O Jornal de Proença esteve à conversa com o presidente da Associação Desportiva, Cultural e Recreativa do Vale da Mua, André Dias.

Foi no contexto da apresentação do livro “Freguesia de Peral na Grande Guerra: 1914-1918” de Tiago Pires, na sede da Associação, apresentado por André Dias juntamente com o presidente da câmara de Proença-a-Nova, João Lobo, que aconteceu esta conversa.

Quando nasceu a Associação?

Formalmente, o registo da Associação em Diário da República é de 13 de Dezembro de 1995, mas o associativismo das pessoas do Vale-da-Mua vem de muito antes disso. Vem dos “bailes” que se faziam nos anos 80 ou até antes disso em que se juntavam os mais jovens para se divertirem e namorarem longe dos olhares dos pais. Com o surgimento de uma rotina de festas e aliado a um dinamismo consequente do estado demográfico da altura, surgiu a necessidade de se criar um espaço para onde se pudessem fazer os convívios. E assim foi, fizeram-se peditórios para comprar o terreno e para fazer as obras e assim apareceu a “casa do povo”, como era e ainda é chamada pelos habitantes do Vale-da-Mua. E sempre foi isso mesmo, a casa onde o povo se juntava para conviver e divertir quer nos convívios anuais no primeiro fim-de-semana de Maio (Festa das Maias) quer em muitas outras festas que se iam organizando consoante as iniciativas da população. Com o passar dos anos as festas foram sendo cada vez menos e as faixas etárias cada vez mais envelhecidas. Mas sempre houve uma resistência e uma vontade do povo do Vale-da-Mua em se juntar e em organizar convívios que fez que com que este dinamismo venha até aos dias de hoje.

Quais os objetivos da associação neste momento?

A equipa que temos atualmente na direção tomou posse em 2017. Na altura com dois objetivos claros: dinamizar a associação e realizar obras de requalificação do espaço da associação. Ainda nãos estão todos completos, embora já tenhamos dados fortes contributos para isso, há sempre mais que se pode fazer que nos convívios quer nas obras. Esses continuam a ser os objetivos. De uma forma pragmática resumiria este dinamismo em: “realizar convívios para angariar dinheiro para investir, realizando mais obras na associação”.

Que convívios organizam?

Na altura pré-covid tínhamos muito dinamismo: organizávamos o convívio da primavera, o encontro anual de verão, o magusto e a passagem de ano. Este último foi dos que me deu mais gozo organizar. Começou por ser uma ideia de um grupo de amigos e foi ganhando força junto das pessoas do Vale-da-Mua e rapidamente chegámos a 70 pessoas inscritas para a passagem de ano. Não tinha a noção de que havia pessoas que passavam a passagem de ano sozinhas. Nos anos seguintes foram cerca de 90. Acabou por ter de parar por causa do COVID. Coincidiu também com o COVID as obras de requalificação em que com o apoio do Município e da União de Freguesias conseguimos completar a primeira parte das obras.

O que mudaram com as obras?

O principal foi ter uma cozinha com condições dignas para cozinhar. Temos agora um espaço que podemos usar nos nossos convívios e que os nossos sócios e interessados podem usar para eventos particulares. Para além disso, as casas de banho. Temos agora casas de banho com capacidade para banhos. O que nos permite receber grupos de pessoas que queiram pernoitar como por exemplo peregrinos.

Qual a importância dos eventos que organizam?

Estes eventos são sempre um momento de encontro e confraternização em que as pessoas criam e alimentam laços e vão se mantendo ativas. Isso é o mais importante. Manter as pessoas ativas e motivadas para viver a nossa cultura. Por exemplo, no dia 11 de novembro o Tiago Pires (os pais e sogros são do Vale-da-Mua) apresentou um livro que escreveu sobre a Freguesia do Peral e os seus combatentes na Grande Guerra. Este deve ser o papel de uma Associação: preservar a cultura e valorizar as suas formas de expressão.

Como vês o futuro da Associação? Quais os grandes desafios?

Creio que o principal desafio das Associações Culturais no interior para os próximos anos é preservar a cultura e a identidade. Noto que de dia para dia, quando cada um dos habitantes do Vale-da-Mua morre, perdemos um pedaço grande de cultura. Muitas destas pessoas não sabem ler nem escrever e então guardavam a sua “cultura” na sua memória. É uma delícia ouvir estas pessoas cantarem músicas que aprenderam no tempo da “ceifa”, contarem histórias de medos, ensinarem técnicas de agricultura que aprenderam já com os seus avós, medirem com exatidão a melhor altura para as lides do campo tendo por base as fases da lua, etc. Cada vez menos há pessoas para ouvirem o que os mais velhos têm para contar, são cada vez menos os que ficam a viver nas aldeias. Fico triste de saber que tudo isto se vai perder. Quando queremos saber quem somos, temos de olhar para trás e saber de onde viemos, conhecer a nossa cultura. Com o tempo, os mais novos vão deixar de procurar nas nossas aldeias a sua cultura e esta sabedoria que foi passada oralmente entre gerações vai-se perder.

O que te motiva para estar no Associativismo?

É viciante. Quando te esforças para criar uma dinâmica que melhore a vida das pessoas (seja um evento, seja uma conversa, um momento de convívio, incentivar a escrita de um livro, etc.) e o consegues, sentes-te útil e sentes-te parte de uma coisa maior que tu. Este sentimento é muito bom e muito gratificante, sentes que estás a melhorar a vida das pessoas. É a busca por este sentimento que me motiva para o associativismo.

Bom trabalho!

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