A solidão de Avós em tempo de encontros
No dia 15 de Julho foi o Dia Mundial das Competências dos Jovens da ONU e no dia 26, o III Dia Mundial dos Avós e Idosos.
Nestes dez dias multiplicam-se as chegadas de milhares de jovens para os encontros da JMJ.
Os avós e idosos “dão fruto mesmo na velhice”, “de geração em geração”, diz o tema da mensagem desse dia que hoje se celebra. Têm capacidades e competências para serem fecundos. Aos oitenta e noventa anos, serão reconhecidas a sua sabedoria, experiência e competência? Muitos vão encolher os ombros e murmurar: agora cá! São frágeis, precisam é de cuidados.
Um especialista de cardiologia (M.O.Carrageta) diz que não há médicos preparados para enfrentar doentes de 85, 90 e mais anos; havia poucos; agora somos país de muitos idosos e nem sempre são bem cuidados.
Olhe-se aos serviços de cuidado continuados, a lares, a unidades de paliativos. Muito poucos. E fica a tentação de recorrer à ajuda de médicos para se suicidarem!
Os idosos não precisam só de cuidados dos outros. Precisam de aprender a envelhecer e auto cuidar-se aos 40, 50, 60 anos. Os autocuidados são tão importantes como os cuidados, mesmo os que ainda não são avós nem idosos.
Quando me perguntam pelo segredo da minha idade, respondo que estou a aprender e a ser ensinado a envelhecer desde os 40 anos. O que se aprende aos 50 ou 60, porém, já não basta para quando se tem 70 ou 80.
Para manter a saúde, cada idoso terá que praticar o que já se sabe que ajuda o viver saudável. É insensato que cada um não evite uma doença em cada três das que poderão vir a bater à sua porta.
A lista dos erros praticados, no dia-a-dia, é bem conhecida: drogar-se, fumar, estragar o tempo do sono, comer e beber com incompetência em saúde, gozar da vida sem andar a pé, viver na inatividade física e mental.
Estes e outros erros produzem idosos de sistemas parados, esquecidos, diria “ferrugentos”, afetados de 30% das doenças que se podem evitar. E ainda ficam outras doenças de limitações inevitáveis com que é preciso aprender a viver.
Que sabedoria de alguns idosos que vivem na velhice, com um misto de alegria e dor, as limitações inevitáveis e sem deixar de fazer bem aos outros.
Por exemplo, João Paulo II, Bento XVI, o papa Francisco e tantos grandes santos na História! Impressiona que haja por aí manifestações de pessoas a orgulhar-se das suas limitações por erros da natureza; e alguns a pretender que os erros são de Deus ou dos outros dos quais alguns, talvez poucos, se tentam vingar. Os avós e os idosos, contudo, ao lado da sua sabedoria e autocuidados, precisarão sempre de apoios, ajudas e consolações; e da companhia dos filhos e netos, e doutros jovens e adultos e da sociedade organizada.
O Papa insiste em ligar a JMJ, já em processo, e os seus objetivos ao dia dos avós e idosos.
Os encontros, os convívios, as tertúlias, em que as idades se misturam, são cada vez mais necessários para mitigar tanta desumanidade da cultura atual do descarte. São cada vez mais as pessoas novas e idosas que sofrem de solidão, isolamento, sentimentos de serem postas de lado, de não terem com quem troquem impressões sobre os seus interesses e preocupações.
Com os progressos da medicina há cada vez mais idosos de idade avançada, mas talvez com menos netos, sobrinhos, sobrinhos netos, e bisnetos e até trinetos, ao seu lado ou confortados com as visitas deles.
Alguns ainda têm familiares, mas distantes, e por isso vivem privados da alegria e do gozo do convívio de proximidade. Note-se que sem as facilidades de meios de comunicação pessoal, telefones, rádio, televisão, computadores seria ainda mais pesada a solidão.
Estão a aparecer inovações de meios digitais “à prova de falhas” (foolproof) para idosos que podem mitigar o isolamento e a solidão involuntária com encontros mistos virtuais-reais.
Nem convém excluir as surpresas mais inesperadas de fazer face à solidão e evitar tristezas, abandonos, solidões depressivas por estar e se sentir só. Nem todos os meios serão saudáveis.
Em reunião recente de terapia de grupo espreitou a surpresa. Havia participantes com experiência de sem-abrigo. Um deles tinha casa e dizia que prefere passar as noites na rua. Surpresa! Maior, ainda, por dizer que tinha família. Logo alguns dos presentes ajudaram a compreender a situação que se tentava entender. O próprio dizia que preferia a rua para estar acompanhado e ter com quem falar; em casa não havia comunicação como na rua.
Pelos vistos parecia estar a fugir à solidão. Talvez não a qualquer solidão. Um dos presentes, com experiência, sugeriu que a razão não seria só falar e comunicar em partilha de vida. Dizia aquele que o gosto da rua e companhia teria a ver com amigos interessados em beber juntos. Beber só, pode fazer sofrer. E estar em família sem beber não agrada a outros.
Também nos grupos em que há idosos já avançados, de oitenta e noventa anos, instala-se a distância considerável de interesses e afetos de se estar só, até alguém conversar com eles sobre interesses e assuntos partilhados.
Sem desejo de aprender a comunicar, entre jovens e idosos, não há encontro de mentes e corações na conversa. E dar frutos aumenta com competências e sabedoria de convivência.
Uma Igreja de saída, como o Papa vai pedindo, é uma Igreja a caminhar juntos com Cristo e como Maria apressada a visitar Isabel na montanha e a levar Jesus; e como São Joaquim e Santa Ana com a Menina Maria a caminho do Templo.